Uma Dose de Cultura - #2

O termo "cultura" está empregado na fala popular como conhecimento, para definir uma pessoa erudita e até mesmo para desqualificar algum grupo dentro da sociedade. Afinal, o que é cultura? 
A cultura, segundo o antropólogo britânico Edward Tylor, é tudo, material e imaterial, produzido pelo Ser Humano. E o que isso quer dizer? Simples! Nossas músicas, danças, roupas, falas e sotaques, língua e até mesmo religiões.
Cultura é um "ser dinâmico", pois se adapta, acumula, perde, novos conceitos surgem e derrubam velhos conceitos. Toda mudança de cultura é recebida com resistência, já que é complicado desconstruir conceitos morais. No entanto, essas mudanças são de grande importância para manter a sociedade harmônica e funcional, por exemplo: a aceitação da homossexualidade, vai contra valores morais enraizados na sociedade, mas é necessária e justa, pois a sociedade é para todos e todas e devemos todos respeitar as diferenças.

Sobre o Etnocentrismo e Preconceito:


No período que vivemos, é normal ouvir coisas como: "fulano não tem cultura"; "Zulu, africano, tem menos cultura que Bávaro, alemão". Isso é adequado? Não! 
Dentro da antropologia, etnocentrismo é definido como julgar a própria cultura superior ou melhor que as outras. Está presente nos atos de intolerância religiosa; de qualificar músicas como funk e axé como inferiores à musica erudita; de criticar os hábitos de países como a China e a Tailândia. Isso é uma forma inquestionável de divulgação de ódio e intolerância, o que nos remete ao preconceito.
As culturas são inúmeras, todas baseadas em contextos históricos, sociais, climáticos e até mesmo naturais, sendo assim, merecem ser respeitadas.

Relatividade Cultural:


 Relativismo cultural é justamente contrapor o etnocentrismo. É a forma que se tem de olhar, estudar e pensar a cultura do outro como diferente, desconsiderando os valores da própria cultura, ou seja, é jogar o olhar imparcial sobre o costume do outro. Foi usado por grandes e reconhecidos antropólogos, como o polonês Bronislaw Malinowski e o alemão Franz Boas, rompendo com o etnocentrismo de grandes escolas evolucionistas europeias, que qualificavam que existiam sim sociedades mais desenvolvidas, pois diziam que toda sociedade começa na sua forma primitiva, até alcançar o clímax como civilização.


Etnocídios pela História:

Na nossa história, grande parte dos genocídios e aculturação aconteceram por conta de valores étnicos ou culturais. Para isso, surgiu a nomenclatura de etnocídio, que é a destruição da cultura e dos valores de um grupo. Podem vir na forma da religião, da língua e até de uma hostilidade entre tribos, como se vê entre os Hutus e Tutsis em Ruanda.

Quando os europeus chegaram na África, Ásia e Américas, esses lugares estavam cheios de pessoas, povos e culturas. Aqui nas Américas, existiam Sioux*, Apaches*, Incas*, Astecas*, Tupi-Guaranis*, Tapuias* (Aymorés, Goytacazes e afins), todos com culturas diferentes entre si. No entanto, com o forte pensamento de uma igreja católica pós idade-média, foram dadas qualificações de povos não civilizados, por alguns não usarem roupas cobrindo as genitálias, e povos hereges, pois cultuavam vários e diferentes deuses do deus cristão. Iniciam um processo de aculturação de forma covarde entre os povos. Aqueles que não compartiram da religião católica e costumes dos ibéricos invasores, foram aprisionados como escravos ou assassinados com suas tribos, o que em maior parte aconteceu com os Astecas e os Tapuias (os dois reconhecidos como povos guerreiros). Esses povos foram vítimas do Eurocentrismo*
O mesmo acontece no século XXI, de maneira institucional e branda, seja por meio de comunicação, consumo, intolerância ou interesses políticos.

Léxico:
*eurocentrismo: superioridade da visão e cultura europeias sobre as outras do mundo.
*sioux: civilização indígena norte-americana, dividida em santees, tétons e yanktons.
*apaches: civilização indígena norte-americana.
*incas: civilização pré-colombiana latino-americana.
*astecas: civilização pré-colombiana latino-americana.
*tupi-guaranis: povos indígenas sul-americanos.
*tapuias: grupo de povos indígenas sul-americanos.


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